A Dama Negra da Dramaturgia Brasileira
Ruth Pinto de Souza, filha de um lavrador e de uma lavadeira, nasceu no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, no dia 12 de maio de 1921. Ainda bebê, foi com a família para o interior de Minas Gerais, onde ficou até os 9 anos, quando o pai faleceu. Ela, a mãe e os dois irmãos voltaram para o Rio. E Ruth já sonhava, desde pequena, em ser atriz.
“Eu era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas, naquela época, não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio chateada, mas sabia que ia fazer; como, não sabia”.
Sua História
Se interessou pelo teatro em 1945 e logo ingressou no Teatro Experimental do Negro, grupo liderado por Abdias do Nascimento, tendo sido a primeira atriz negra a subir ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro com a peça O Imperador Jones, de Eugênio O'Neill. Em seguida, recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller e passou um ano nos Estados Unidos, estudando na Universidade de Harvard e na Academia Nacional do Teatro.
Estreou no cinema em Terra Violenta (1948) e se destacou internacionalmente por seu papel como Sabina em Sinhá Moça (1953), pelo qual recebeu inúmeros elogios da crítica nos festivais de Berlim e Veneza.
Na década de 1950, participou de radionovelas e começou a atuar nos teleteatros da TV Tupi.
Na década seguinte, adquiriu sucesso na televisão com a telenovela A Deusa Vencida (1965), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior.
Em 1968, integrou ao elenco da TV Globo, onde se tornou a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela em A Cabana do Pai Tomás (1969).
Em 2013, recebeu um troféu honorário por sua contribuição ao cinema nacional na cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Ruth foi uma atriz que teve menos oportunidades do que merecia na televisão, sobretudo diante de seu farto talento. E esse boicote silencioso à sua carreira e à sua inegável capacidade em interpretar variadas personagens aconteceu pelo fato de Ruth de Souza ser negra. Que o legado imenso deixado por Ruth de Souza nunca seja esquecido. Ruth de Souza se despediu da televisão em 2019, na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora (TV Globo), no mesmo ano em que morreu, aos 98 anos.